Representantes de 170 países, cerca de 1.200 palestrantes, 2.000 startups, 1.400 investidores, mais de 200 expositores e 2.000 jornalistas, resultando num público aproximado de 70 mil pessoas. Estes são os números superlativos da nona edição do Web Summit, festival de tecnologia, empreendedorismo e inovação que teve início nesta segunda-feira, 4, e vai até a próxima quinta, 7, na Feira Internacional de Lisboa (FIL) e no Pavilhão Atlântico (Altice Arena), na capital portuguesa. Com reputação de “maior encontro de empreendedores do mundo”, o Web Summit, antes de tudo, é uma excelente vitrine para Portugal, hoje um dos principais hubs de inovação da Europa.
Mas, nem sempre foi assim. Vinte anos de investimentos em educação elevaram o nível das universidades, deram reputação internacional a centros de pesquisa locais e formaram uma população bilíngue (segundo o Instituto Nacional de Estatística, 82,1% dos moradores da Região Metropolitana de Lisboa dominam ao menos um idioma estrangeiro, sendo o inglês o principal). Após os anos de “vacas magras” o país retomou o ritmo e passou a colher os frutos dos anos anteriores de investimentos.
No campo do empreendedorismo digital, em específico, a última década foi marcada por uma série de políticas de incentivo que não ficaram restritas à esfera econômica: desde a construção de centros de negócios, passando pela criação de iniciativas de fomento à inovação, pelo enxugamento de custos operacionais e pela formação de uma robusta comunidade investidora, Portugal tornou-se um paradigma em Transformação Digital não apenas para a Europa, mas para o mundo. Segundo informações divulgadas pela Câmara Municipal de Lisboa, até meados do ano passado, o ecossistema local possuía 18 incubadoras de startups, cerca de 14 programas de aceleração de empresas e mais de 50 espaços de coworking.
Investimentos, de fato, são a tônica do ecossistema local. Mercedes-Benz, Volkswagem e Uber, para citar apenas empresas do ramo de transportes, comunicaram a instalação de unidades de inteligência em Lisboa. Juntas, deverão abrir milhares de novos postos de trabalho, a maioria destinada tanto a profissionais qualificados nascidos em Portugal, como a estrangeiros oriundos de diversos países, atraídos não apenas pelas oportunidades no mercado empreendedor digital, mas também pela gastronomia, pela rica herança histórica e pela qualidade de vida da “terrinha”, três dos seus maiores produtos de exportação. O clima, aliás, é espetacular e o povo, por sua vez, é acolhedor – duas características difíceis de replicar em outras partes do mundo. A propósito, foi essa combinação de fatores, aliada à estabilidade econômica que, em setembro de 2015, trouxe o Web Summit aqui para Lisboa – até então o evento era realizado em Dublin. Em parceria com o governo daqui, o festival prometeu ficar na capital portuguesa até 2028.
Ao longo desses quatro dias do festival, cases inovadores são apresentados, centenas de pichts realizados, networking e muita troca de informações sobre tecnologia, sim, mas principalmente sobre iniciativas empreendedoras. As atrações, aliás, vão além da Altice Arena e FIL, chegando às ruas de Lisboa por meio de inúmeros eventos paralelos, como o Summit Night, que, a título de curiosidade, na edição de Dublin, serviu de palco para o surgimento da Uber.
Tenho tido a oportunidade de participar da Missão Web Summit 2019 e ressalto que investimentos, de fato, são a mola propulsora do ecossistema local, com inúmeras alternativas. O que mais se observa por aqui é a chegada de brasileiros ativos e extremamente animados com as oportunidades de novos empreendimentos, conectada à maior qualidade de vida.
A Missão, organizada pela Atlantic Hub em parceria com a Câmara de Comércio Portuguesa no Brasil, tem justamente o propósito de conectar empresários brasileiros à essa nova realidade portuguesa, de forma profissional e experiente.
Pude observar de perto o investimento na área de educação, ao visitar a Nova SBE, uma escola de negócios extremamente alinhada com as necessidades de formação de líderes para essa nova era, com enorme participação de alunos estrangeiros. Além disso, visitamos também uma iniciativa que une o digital ao social, que é uma das frentes que eu acredito e apoio, com o projeto da Casa do Impacto, que forma programadores em 14 semanas para atender à crescente demanda por profissionais nessa área, visando principalmente pessoas com menor condição financeira, onde pude conhecer um pouco da história do Thiago e Priscila, entre outros brasileiros, que já passaram pelo programa e estão empregados, pois o índice de empregabilidade deles é de 96%.
Vou contar mais sobre isso e outras iniciativas nos próximos artigos.
O Web Summit talvez seja mesmo o “maior encontro de empreendedores do mundo”. Mas, o ecossistema empreendedor de Portugal é o seu grande palco e o seu maior protagonista.
Artigo publicado no dia 06 de Novembro, no portal Meio&Mensagem