Relação homem-máquina: como será o trabalho no futuro?

Relação homem-máquina: como será o trabalho no futuro?

Na Quarta Revolução Industrial, as máquinas ocupam cada vez mais espaço no mercado de trabalho – saiba porque isso pode ser positivo para você e sua empresa

Quando se deparam com a pergunta “Como será o trabalho no futuro?”, percebo que muitas pessoas especulam o cenário mais tenebroso possível, onde a força humana será desnecessária devido ao papel que as máquinas já ocupam – e poderão ainda ocupar – no mercado de trabalho. Por ser uma entusiasta das potencialidades da transformação digital, meu ponto de vista se volta para um cenário mais realista e, até mesmo, positivo quando se trata da relação humano-máquina. Um mundo em que os robôs ocupam boa parte das posições de trabalho pode não ser apenas vantajoso, mas desejável.

Se por um lado a onda de avanço tecnológico está destinada a reduzir o número de trabalhadores necessários para certas funções laborais, muitas pesquisas indicam que a expectativa da Quarta Revolução Industrial é a de criação de tarefas totalmente novas, abrindo assim um leque de oportunidades para a subsistência dos trabalhadores. Dessa maneira, podemos observar que o aumento da demanda por novos tipos de trabalhos compensará a demanda decrescente de outros.

Além disso, por mais avançados que sejam, as máquinas ainda não são capazes – e talvez nunca venham a ser – de exercer atividades que demandem competências consideradas exclusivamente humanas. Se temos as máquinas exercendo atividades repetitivas e de alto risco, a tendência é a de que, cada vez mais, se amplie o espaço e o estímulo para que os profissionais busquem explorar as habilidades que nos tornam singular, como criatividade, inteligência emocional, senso crítico, capacidade de negociação, empatia e consciência coletiva.

Porém, obviamente, esse cenário não irá se concretizar de uma hora para outra. A transformação digital no mercado de trabalho já está em andamento, mas ainda é um tipo de mudança de mindset que pode envolver transições difíceis para muitos trabalhadores e seus líderes. Ao mesmo tempo, esse é um cenário que demanda a necessidade global de investimento proativo para o surgimento de aprendizes ágeis e talentos qualificados.

Qual o futuro do trabalho para os próximos anos

Segundo o relatório The Future of Jobs (O Futuro do Trabalho), divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, ao menos oito a cada dez empresas planejam a adoção de novas tecnologias nos próximos cinco anos. Quatro dessas novas tecnologias aparecem como drivers de mudança no período 2018-2022, capazes de afetar positivamente o crescimento de negócios. São elas: análise de grandes volumes de dados (Big Data), rede móvel de alta velocidade, inteligência artificial e tecnologia de nuvem. Esse dado é de grande relevância, pois o investimento em tecnologias digitais é um dos passos para impulsionar a transformação digital na sua empresa.

É fato que a transição para um mercado de trabalho com forte presença das máquinas levará à redução de cerca de 10% da força de trabalho – o equivalente a um declínio de 0,98 milhões de empregos. A boa notícia é que, ao final, a conta fica positiva: o crescimento de perfis emergentes em todas as indústrias soma um ganho de 1,74 milhão de empregos. Metade dos principais empregos atuais permanece como está. Na divisão do trabalho entre humanos e máquinas, as estimativas apontam que 75 milhões de empregos podem ser “roubados” pelos robôs, mas 133 milhões de novas funções devem emergir.

Para além da adoção de novas tecnologias, o documento traz ainda outras pistas do que esperar para os próximos anos no mundo dos negócios. Quase metade dos gestores entrevistados realmente acredita que a automação irá reduzir a força de trabalho em tempo integral, considerando o quadro atual dos funcionários. Contudo, 38% acreditam que as transformações da Era Digital vão contribuir para o aperfeiçoamento da produtividade de sua força de trabalho.

Quais as importantes tendências para o mercado de trabalho no futuro

O relatório indica também três importantes tendências para o mercado de trabalho: o aumento da utilização de trabalhadores remotos, a implementação de operações descentralizadas e a adoção de sistemas de aprendizagem contínua. Por sinal, faço uma ressalva aqui sobre a importância do RH 4.0 enquanto agregador ao seu negócio, para lidar com a flexibilidade na jornada de trabalho e com os novos modelos de contratação. O RH 4.0 é responsável por promover a gestão integrada de pessoas e ferramentas a fim de preparar a empresa para explorar oportunidades, elaborar planos de ação e implementar soluções, dentre outros.

Adicionalmente, o relatório traz um ponto bastante interessante para a discussão ao apontar como a transformação do capital humano ocorrerá no mercado trabalho: a estimativa dos especialistas é a de que 35% das habilidades mais demandadas para a maioria das ocupações devem mudar. Atualmente, os profissionais dos setores de mídia e entretenimento, consumo, saúde e energia estão sendo os mais impactados pelas novas exigências do mercado. Já finanças, infraestrutura e mobilidade são as próximas áreas da lista das transformações mais profundas geradas pela Revolução Digital.

Agora se a sua aposta é nas chamadas profissões emergentes, vale dar uma olhada nas funções que vão experimentar uma demanda crescente. Por um lado, temos os perfis baseados e aprimorados pela tecnologia, como especialistas em e-Commerce e Mídias Sociais, analistas de dados e cientistas, desenvolvedores de software e aplicativos, além das relacionadas como as próprias tecnologias emergentes, como os especialistas nas áreas de Inteligência Artificial e machine learning, Big Data, automação de processos, etc. Por outro lado, as funções focadas em habilidades “humanas” também devem apresentar crescimento significativo, tais como Atendimento ao Cliente, Vendas e Marketing Profissionais, Treinamento e Desenvolvimento, Pessoas e Especialistas em Cultura e Desenvolvimento Organizacional bem como gerentes de inovação.

Distribuindo todos os pesos na balança, os dados acima nos mostram que a Transformação Digital veio mesmo para mexer com as bases não só do jeito de fazer negócios, mas das relações de trabalho e o desenvolvimento de carreiras. No fim das contas, eu vejo essas profundas alterações com otimismo: vale a máxima de que toda crise gera oportunidades de mudança e crescimento.

O futuro do trabalho é um futuro sem empregos?

Aposto que você conhece uma boa dúzia de pessoas que passou décadas trabalhando em uma única empresa. Talvez até mesmo você esteja conduzindo sua carreira em uma mesma corporação. A geração anterior nos ensinou que o certo a se fazer era optar por uma profissão, graduar-se, encontrar um bom emprego e então investir no aprimoramento do seu trabalho focando principalmente no exercício de atuação profissional. Provavelmente essa concepção foi a primeira a ser jogada pelos ares pela Revolução Digital.

Adotar as novas tecnologias de forma generalizada, com máquinas exercendo atividades antes exclusivamente humanas, não significa um futuro sem empregos. Mas, bem provavelmente, uma ressignificação do que é estar empregado. A flexibilização do trabalho já é uma tendência crescente em diversos países: na Era Digital o profissional vai trabalhar cada vez mais de forma remota e prestando serviços através de conexões pontuais com as empresas, como é o caso de freelancers e microworkers. É a vez da chamada Gig Economy.

Como se preparar para o futuro do trabalho

Neste contexto, desenvolver uma carreira pensando no futuro requer adaptação e flexibilidade, regados a uma boa dose de empreendedorismo, passando por lições de autoconhecimento e aprimoramento contínuo, seja de forma individual ou por meio de treinamentos corporativos. Quer realmente se preparar para o mercado de trabalho do futuro? Meu conselho de ponto de partida é você começar esquecendo a ideia de que em algum momento deve parar de se qualificar.

Mais da metade dos profissionais, segundo o relatório The Future of Jobs, terá que necessariamente passar por um aprimoramento ou reciclagem de suas habilidades até 2022. Conhecimento de gestão, treinamento em marketing digital e estímulos de habilidades como criatividade e inteligência emocional serão importantes para profissionais de qualquer área de atuação. No mercado de trabalho da Era Digital, a reciclagem contínua não deverá ser mais um diferencial, mas a regra.

Existe um ciclo virtuoso de retroalimentação entre novas tecnologias e qualificação. E nem quem lidera empresas escapa dessa realidade: salário e benefícios não são mais o suficiente para assegurar a satisfação e o nível de qualidade de uma equipe. Para realmente serem bem-sucedidas na onda de transformações geradas pela Quarta Revolução Industrial, as empresas precisam reconhecer o capital humano como um investimento ativo e não mais como um passivo.

A própria adoção de novas tecnologias traz em si uma lacuna de habilidades no quadro profissional das empresas. Há três estratégias principais para lidar com este cenário:

  1. Automatizar completamente as tarefas de trabalho já impactadas pela Revolução Digital.
  2. Formalizar parceria especializada com profissionais externos por meio de processos outsourcing.
  3. Investir em treinamentos para capacitar os atuais funcionários.

O que posso concluir sobre o futuro do trabalho

O crescimento dos negócios é impulsionado pela adoção de novas tecnologias, mas é o aproveitamento integral dos talentos de um capital humano motivado e qualificado que irá fazer diferença no sucesso da corporação. Afinal não é a tecnologia sozinha, que pode ser adotada amplamente no mercado, que vai fazer a diferença nos seus negócios. É a preparação e motivação da sua equipe. No final, há coisas que nunca mudam.

Se a nova era trazida pela Revolução Digital pode significar o fim do trabalho tal como conhecemos, com os riscos adicionais de aumento de desigualdade e polarização,  essas transformações, conduzidas com sabedoria, também podem levar a um período inédito de aproveitamento real das potencialidades e talentos de cada um, com bons empregos e melhor qualidade de vida para todos. É ou não uma boa aposta?

Sandra Turchi – Keep Digital.

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Especialista em Marketing Digital e E-commerce, palestrante, professora e sócia-diretora da Digitalents.

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