Que venha 2022, com um mundo menos CÃOporativo!!
Que título é esse? Como já comentei com vocês aqui, em artigos anteriores, eu trabalhei por mais de vinte anos no mundo corporativo. Passei por diversas experiências, tanto positivas como negativas, incluindo assédio sexual e moral, desrespeito de vários tipos, assim como demorava bem mais para galgar altos postos nas companhias, se comparado aos meus amigos do sexo masculino, além de bolas nas costas, entre outros episódios. Por isso, há dez anos, quando saí desse universo e resolvi empreender eu passei a chamá-lo carinhosamente de “Mundo CÃOporativo”! Portanto um dos meus desejos de ano novo é que isso mude.
2020 e 2021 foram anos mais do que desafiadores, mas também de novas descobertas. Muitos profissionais e empresas tiveram que se reinventar por conta da pandemia e muitas companhias estão optando por esquemas mais flexíveis de trabalho, e pela adoção do modelo híbrido que alterna equipes e/ou jornadas em home office e presencial nos escritórios. Na Digitalents, não temos do que nos queixar. Uma das nossas áreas de negócios, a de headhunting, registrou crescimento de mais de 250% no ano passado em comparação a 2020. Isso teve relação direta com o reaquecimento do mercado, o que provocou um grande aumento no turnover de profissionais, principalmente nas áreas relacionadas ao Marketing Digital, Tecnologia, E-commerce e afins.
Muita coisa mudou e hoje 81% dos profissionais brasileiros, especialmente os mais qualificados, buscam mais equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, como revelou uma pesquisa, publicada no Estadão, feita pela consultoria de RH Randstad que entrevistou mais de 27 mil pessoas de 34 países. E como bem observou Fabio Battaglia, presidente da consultoria “a pandemia trouxe uma nova noção de realidade, com hábitos digitais e um aprendizado constante”. E tudo isso vem acelerando muito as mudanças no formato anterior do mundo corporativo.
Mas, a grande questão é o que as empresas deveriam fazer de fato para conquistar e reter seus talentos num mercado tão dinâmico? Para 41% dos profissionais, fatores como remuneração e reconhecimento são motivadores importantes para realização do trabalho. Já para 33% o fundamental é ter autonomia e desafios; 25% querem um bom ambiente corporativo e cultura e 1%, estabilidade e localidade. Foi o que revelou nossa última enquete publicada no LinkedIn em dezembro de 2021.
E no finalzinho do ano tivemos uma última live onde conversamos com Cida Smidt e Fernanda Sato, fundadoras da Mais DH, parceira da Digitalents na área de “TEAM CARE”, que deram uma verdadeira aula sobre a importância do desenvolvimento humano dentro das organizações. Elas foram pioneiras em assumir postos de gestão numa época em que poucas mulheres ocupavam esses cargos. E isso foi possível porque a diretoria do banco em que trabalhavam, o ABN Amro Real, tinha uma preocupação grande em desenvolver pessoas. “Era o banco da sustentabilidade, que inovou sobre isso e genuinamente eram valores trabalhados dentro da organização. Quando assumi minha primeira gerência, aos 25 anos, dava para contar nos dedos de uma mão o número de mulheres nesses cargos. E foi o início de um programa de desenvolvimento de todos os líderes dessa diretoria, sempre com foco comportamental. Em 1995 iniciamos a formação para que fôssemos multiplicadores para que todo funcionário pudesse passar pelo programa de desenvolvimento pessoal ao longo do ano”, lembrou Fernanda.
Elas disseram que aquele era um preparo fundamental e do qual tinham muito orgulho por estarem trabalhando com isso e estruturando esses treinamentos. “Foi uma fase muito legal e o diretor tinha muito esse olhar do cuidado, de ter essa atenção, até mesmo com questões que não estavam tão em pauta na época, como a diversidade etária, por exemplo. Tive funcionários com bem mais idade do que eu. Eu tinha 32 anos e lidava com profissionais de 50, 60 anos e estagiários de 20, 22 anos e isso sempre foi tratado de maneira natural. Não havia empecilho nesse sentido. Sempre foi trabalhado e tivemos aprendizado para que pudéssemos lidar com isso de forma natural porque tínhamos um objetivo maior que era o coletivo. Então essa contribuição valia muito”, lembrou Cida.
Ambas destacaram que a diversidade, seja de idade, gênero etc., é algo que precisa estar no topo do radar das empresas e isso requer uma mudança de cultura que deve começar nos níveis mais altos, estabelecendo como a empresa quer ser vista, como quer se posicionar. A gestão tem que querer a inclusão e montar programas para sensibilizar os níveis mais altos e cascatear até a base da estrutura, trazendo os atributos e os valores que fazem parte da cultura da empresa para que tudo seja do conhecimento de todos.
E lembram ainda que não existe programa de treinamento técnico ou palestra que vá sensibilizar porque isso é de cada um. É fundamental desenvolver nesses humanos a inteligência emocional, a empatia, e viver isso na carne. É preciso também ajudar a desenvolver a pessoa na questão do autoconhecimento porque só falar “aceite o diferente” não funciona. E numa conversa, um realmente tem que escutar o outro, porque é aí que há aprendizado para todos.
E então galera, vamos começar um novo ano repensando bastante os valores das companhias para fazer o mundo dos negócios menos CÃOporativo?