“É preciso aprender a desaprender para aprender o novo” é uma frase que vem sendo repetida à exaustão por vários consultores e profissionais de diferentes áreas, inspirada na fala do pensador norte-americano Alvin Toffler (1928-2016): “O analfabeto do século 21 não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”. Mas, na realidade o que isso significa? Trata-se apenas de mais uma bela frase de efeito ou é mesmo algo que precisa ser levado a sério? E nesse segundo caso, como fazer isso na prática, especialmente pensando na galera 50+? Será que é mesmo necessário desaprender tudo o que foi aprendido não apenas nos bancos de escola, mas inclusive em anos de trabalho e de vivência pessoal?
Talvez o mais correto seria dizer que é necessário estar aberto para o novo, ou seja, ser mais flexível para ver as mesmas coisas sob um novo ângulo, sob uma nova perspectiva, e não se apegar tanto ao modus operandi habitual, mas abrir a mente para novas formas de resolver as questões. A pandemia foi uma grande impulsionadora nesse sentido. A maioria dos profissionais se viu obrigada a mudar a rotina, deixando os escritórios para trabalhar em home office e passar a fazer reuniões online com colegas de trabalho, e com os clientes tradicionais e prospects utilizando cada vez mais os meios digitais. Que o digam os professores, que tiveram que aprender rapidamente a adaptar as aulas presenciais para o ambiente online, tarefa hercúlea, especialmente para os da rede pública de ensino fundamental e médio, muitos dos quais não tinham familiaridade com o digital e sequer computadores e acesso à internet, e menos ainda seus alunos.
Crises costumam ser boas molas propulsoras para mudanças, mas será que só por meio delas é que alteramos nosso modo de agir e de pensar? Se analisarmos bem, a única constante é que tudo muda o tempo todo. Sempre foi assim. Só que atualmente essas mudanças ocorrem numa velocidade cada vez maior. Por isso, meu conselho, especialmente para a galera 50+ é: saiba acompanhar esse movimento de forma mais leve. Aprenda novas habilidades, não só as técnicas, como as comportamentais. É preciso haver mais colaboração, comunicação, capacidade de adaptação, estar aberto a novas ideias, saber se relacionar com pessoas mais jovens e a trocar com elas os conhecimentos (seus e delas), ter prazer no que faz e manter acesa a curiosidade.
Como fazer tudo isso? Mórris Litvak, CEO da Maturi, deu boas dicas numa entrevista à Casa Firjam: “A humildade também é importante para aprender com os jovens e até ser gerido por eles. Também é desafiador buscar novos horizontes profissionais, mudar de profissão, recomeçar ou trabalhar por conta própria, mas tudo isso será cada vez mais comum, por isso a adaptabilidade é fundamental. Como se capacitar? Fazendo cursos, buscando conteúdo de qualidade na internet, conversando com os jovens, testando e vencendo o medo da tecnologia, que precisa ser vista como uma aliada e não como barreira. É preciso entender que ela abre muitas portas e a falta dessa atualização significa perder oportunidades.”
Outra boa dica é a do José Moran, educador e pesquisador de projetos de inovação da ECA/USP, que destaca que para aprender de verdade é preciso fazer perguntas importantes, buscar respostas incompletas, rever sínteses consolidadas. “Muitas pessoas vivem no piloto automático, repetindo os mesmos gestos e rotinas, inebriados nas redes sociais, sem tempo para rever, questionar-se, meditar. Isso dificulta uma percepção mais profunda, uma reavaliação mais objetiva e tomadas de decisão adequadas. No meio de tantas atividades e correria, é importante encontrar tempos para a aprendizagem pessoal profunda, meditando, refletindo, reavaliando nosso percurso”.