Análises com big data, tecnologias de precisão, biotecnologia, sensores, robôs, drones, imagens de satélite. Percebo que uma grande parcela das pessoas associa todas essas tecnologias disruptivas de ponta a empresas urbanas modernas, em oposição a um ambiente rural retrógrado, composto por produtores rudimentares que vivem ainda no século passado. Mas nada está mais longe do que tem acontecido no campo: a chamada Revolução 4.0, ou a Agricultura Digital, que está transformando as lavouras com tecnologias sofisticadas e de última geração, em última instância tem o poder de modificar para melhor toda a cadeia alimentar e econômica do Planeta.
Sim, sabemos que nem todas as lavouras utilizam essas tecnologias – da mesma forma que ocorre com os empreendimentos do ambiente urbano, na zona rural também há quem ainda utilize métodos mais arcaicos. Entretanto o cenário em que a Revolução 4.0 se desdobra é promissor.
As novas tecnologias do campo, devidamente aplicadas, poderão elevar em 80% o valor da produção agrícola no mundo inteiro até 2050, segundo dados da AgFunder, empresa americana de análise de fusões e aquisições no agronegócio. No Brasil o prognóstico também é positivo: caso o acesso à banda larga e as tecnologias disruptivas chegue a todas as fazendas nos próximos 15 anos, o PIB do agronegócio pode aumentar em 130%. O movimento tem sido crescente: entre 2016 e 2017, o investimento em startups do agronegócio cresceu 50%, chegando aos 9 bilhões de dólares no mundo inteiro.
O ambiente agrícola no Brasil é vasto e fértil e, por sua vocação agrícola, com profissionais e pesquisadores de referência, o País vem se estabelecendo como um dos líderes nessa revolução digital da agricultura.
Novas tecnologias
Produtividade. Esse é o fim esperado por toda essa onda tecnológica que a Revolução 5.0 acarreta para atender a demanda de uma população de 9 bilhões de pessoas em 2050, em torno de 1,5 bilhão a mais do que a quantidade atual. Quer um exemplo? Satélites, drones, tratores mecanizados e softwares de inteligência artificial podem identificar, em questão de segundos, se o fertilizante foi aplicado uniformemente, a melhor data para plantio ou ainda o nível de umidade do solo. É a agricultura de precisão, que substitui a experiência do produtor como única maneira de controlar todos os fatores, alguns até então imponderáveis, das lavouras.
E ela já está funcionando – e bem – no campo brasileiro. Alguns dados mostram a impressionante transformação na produtividade do agronegócio brasileiro. Em uma década (2006 a 2016), a área destinada aos grãos cresceu 32%, enquanto sua produção aumentou 81%. Já a produção de carnes cresceu 25%, com ênfase para a de frangos, com um salto de 42%. As exportações do agronegócio subiram 72% e o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) saltou de 302,58 bilhões de reais para 529,21 bilhões, 75% a mais.
Mas a revolução tecnológica do agronegócio não para por aí. Nos últimos anos, alguns startups promissores surgiram e começaram a se destacar no setor até internacionalmente. É o caso da Bug Agentes Biológicos, considerada a 33ª empresa mais inovadora do mundo pela revista americana Fast Company e a primeira empresa da América Latina a integrar o seleto grupo Pioneiros da Tecnologia, do Fórum Econômico Mundial. Criada em 2001 nos laboratórios da Esalq, a escola de ciências agrárias e ambientais da Universidade de São Paulo (USP), a startup brasileira comercializava insetos para o combate de pragas em grandes plantações, como cana e soja até ser adquirida pela Koppert no final de 2017.
O marketing no agro
Da mesma forma que as lavouras estão utilizando tecnologias sofisticadas de produção, o produtor rural não é mais aquele homem do campo que somente consegue escutar rádio ou televisão. A internet é o meio que mais cresce em termos de busca de informações nesse setor. E algumas empresas de agronegócio já vislumbram a importância do investimento em marketing digital para consolidar sua marca e se destacar.
De acordo com uma pesquisa do Sebrae, divulgada em 2017, 71% dos donos de microempresas rurais e 85% dos proprietários de empresas de pequeno porte no campo, utilizam smartphones no cotidiano. No mesmo ano, o Censo Agropecuário do IBGE, divulgou que houve um aumento de 1.790% no número de produtores com acesso à internet desde o ano de 2006 até 2017.
O Facebook e o WhatsApp são as principais ferramentas para conexão e difusão de conteúdos no setor, com centenas de grupos voltados para a discussão de assuntos relacionados ao campo. O agronegócio possui até redes sociais exclusivas, como o YouAgro, feita para compartilhar conteúdo relativo ao agronegócio e que já conta com mais de 5 mil usuários.
Um dos casos de sucesso do marketing digital no agronegócio é a Jacto. A multinacional paulista utilizar o portal online para engajar e responder dúvidas dos produtores rurais de modo a reforçar seu nome no mercado como referência na agricultura. Na pecuária, o Grupo Taura também utiliza os canais digitais para conversar com o público, com dicas e troca de informações relevantes.
É uma tendência irreversível: as empresas de agronegócio têm se preocupado mais com a gestão da marca. De nada vale investir em tecnologia de ponta se o consumidor desconhece o que é realizado no campo. Para tanto, o marketing digital vai desde o investimento nos canais digitais, com a identificação de públicos e associação a empresa à inovação, com divulgação de tecnologias e depoimentos de importantes clientes, até a participação física e digital em grandes eventos do segmento, com convites para visitar estandes e ações de integração com os canais digitais.
Seja como for, a aposta na produção de conteúdo estratégico e de alto impacto, que promova um alinhamento entre marketing e força de vendas, é essencial para quem quer consolidar a marca no setor. Mais do que isso: mostrar a face tech do campo brasileiro é estratégica para conservar a liderança mundial do Brasil na exportação de alimentos, e, consequentemente, bons índices da economia nacional, especialmente nesse período em que a imagem está arranhada por quem ainda insiste em métodos arcaicos de produção. O certo em tudo isso é que boa parte da forma e modelo de negócios na agricultura vai continuar a se reinventar nos próximos anos. E, acredito, o marketing digital pode ser um bom aliado na expansão deste território.