Eis um assunto fascinante, as formas como as classes sociais se relacionam com o consumo, suas diferenças e, muitas vezes, suas semelhanças. Vivemos no país dos grandes paradoxos, principalmente, quando o assunto é a disparidade social. E quando transportamos essas contradições para o mundo das compras percebemos claramente como se comportam.
Observamos uma “fila” de algumas semanas para adquirir a nova bolsa da grife Louis Vuitton, a Lockit Alligator, por R$ 58 mil, bem como a abertura de novas lojas em São Paulo da Giorgio Armani e da francesa Hermès, além da Gucci que também está chegando, para atender aos consumidores que representam menos de 1% da população brasileira, sendo que ao mesmo tempo tivemos acesso ao crescimento da classe média no país, conforme estudo da FGV, em que mais da metade da população (51,8%) recebe entre R$ 1.064 e R$ 4.591 por mês.
E como pensa e consome essa grande maioria? Para essa análise temos que considerar diferentes grupos. A começar pelas mulheres, que cada vez mais se preocupam com suas carreiras, 70% delas almejam crescimento profissional (DataPopular – Meio&Mensagem, 04/08/08) e estão preocupadas em cuidar mais de si mesmas, pois 39% desejam acrescentar academias à sua rotina, 33% cabeleireiro, 25% massagens e 20% esportes, além de 14% que querem almoços com amigas. O que isso significa? Uma enorme alteração no perfil dessas consumidoras, as mesmas que anteriormente se diziam realizadas através dos filhos.
E para os profissionais do mercado, se faz necessária muita atenção para não perderem as oportunidades advindas dessas mudanças.
Outro grupo importantíssimo a ser considerado são os jovens pertencentes a essas classes. Hoje, mais sintonizados do que as gerações anteriores, devido à facilidade de acesso via celulares e internet, não se limitam mais ao universo do seu bairro e dos seus amigos, hoje eles começam a ter um consumo similar ao da classe média alta, porém, para isso, se utilizam, assim como os adultos, das facilidades trazidas pelo maior acesso ao crédito. Com isso, podem comprar o mesmo tênis de marca que o jovem de uma classe mais também usa. De qualquer forma, os hábitos das classes populares ainda diferem bastante da elite, por serem mais conservadores, mais religiosos e por serem também mais solidários, pois costumam compartilhar mais suas vidas com membros da sua comunidade.
Complementando, os gastos da família brasileira média, conforme estudo do LatinPanel (07/2008), se dividem em: 19,3% alimentação no lar, 13,4% habitação, 12,6% transporte, 10,2% contas de água e luz e outras, 7% com saúde, 6,4% vestuário e 4,6% alimentação fora do lar. Sendo que o maior grupo hoje já é representado por pessoas que vivem sozinhas ou casais sem filhos – 27% da população.
O que se torna perceptível é que, diante desses fatores de mudança contínua, a tarefa dos profissionais de marketing é cada vez mais árdua pela disputa por parte da renda dessa população, tendo que despender mais esforços no sentido de localizar seu target, selecionar adequadamente os veículos para “falar” com ele e se utilizar de mensagens que façam sentido a cada público.
(artigo publicado na Revista Marketing – agosto / 2008)