Imerso em uma série de tecnologias, cabe ao profissional desenvolver habilidades exclusivamente humanas, como criatividade e inteligência emocional
Se quando você ouve as palavras automação e inteligência artificial, a primeira imagem que vem à mente é o mundo assustador, dominado por máquinas, apresentado na série Black Mirror, te convidamos a mudar seu mindset. O futuro do trabalho no mundo digital não precisa ser visto como algo negativo, onde o ser humano deve perder espaço para as máquinas. Lidar com o mundo digital depende de como olhamos as mudanças e enxergamos através delas oportunidades de crescimento e renovação.
Nenhuma revolução acontece de uma hora para outra. A humanidade leva um tempo para se adaptar ao que é novo. Se pensarmos na última grande transformação da sociedade, a Revolução Industrial, devemos considerar que levou-se cerca de 200 anos para, de fato, esse cenário se estabelecer. O surgimento das fábricas, da produção em série e do trabalho assalariado são características que mudaram profundamente as relações econômicas e sociais, e passaram a moldar as nossas vidas de maneira tal que não mais nos assustamos com elas.
Os sinais de que vivemos em um novo momento da história da humanidade estão aí. Nos deparamos continuamente com a tecnologia fazendo parte do nosso cotidiano, 24 horas por sete. Estamos presenciando a extinção de determinados empregos e o surgimento de outros. Estamos vendo inovações disruptivas ganhando espaço na sociedade, exatamente por apresentar soluções efetivas e a baixo custo, como é o caso dos serviços de Uber e Airbnb.
Isso significa que não teremos mais taxistas rodando pelas cidades ou hotéis a disposição? Não há uma resposta exata para essa pergunta, mas, até o momento, não é isso o que estamos vendo. A oferta de serviços e produtos mostra que, enquanto ser social, temos demandado novas necessidades. Nosso nível de exigência tem aumentado cada vez mais e isso se reflete em todos os setores, principalmente no mundo do trabalho. A crescente presença da robótica para exercer atividades repetitivas e de alto risco nos dá espaço para exercer outras habilidades, exclusivamente humanas, no setor laboral, tais como inteligência emocional, criatividade, senso crítico, consciência coletiva e empatia.
Como se preparar para o futuro do trabalho na era digital
O profissional do futuro é multidisciplinar. É especialista na sua área, mas está sempre em busca de aprender novas habilidades. A globalização dos processos de produção abre espaço para as tecnologias disruptivas, onde há uma quebra nos padrões já estabelecidos no mercado. Nesse contexto, ter formação em uma área específica não é suficiente. Cada vez mais o profissional será alocado em empresas e projetos de acordo com as competências que domina.
Porque vivemos em um cenário de mudanças constantes e inovações tecnológicas, manter-se informado é o diferencial. Se prepara melhor para o que virá quem mais se informa. Devido ao hábito de sempre se atualizar, o profissional da era digital possui alta capacidade de se adaptar. Ao analisarmos o exemplo do serviço Uber, notamos que os motoristas de táxi têm se sentido continuamente ameaçados em seu ramo de atuação. E por que isso acontece? Porque temos aí a lacuna da desinformação.
Desde 2010 o Uber foi lançado no mercado. A princípio, em parceria com hotéis de São Francisco (EUA), funcionava como um serviço de táxis de luxo. O diferencial é que o cliente podia chamar um motorista através de um aplicativo no celular. Com o passar do tempo, outras possibilidades foram sendo adotadas e em 2012, a startup lançou o UberX, permitindo que qualquer proprietário de veículo se tornasse motorista. Apesar de enfrentar resistências de companhias de táxis e esbarrar em questões legais, o Uber tem sido aceito na sociedade, mudando as configurações da relação de trabalho.
O profissional do futuro quer ser valorizado pelos resultados que apresenta e não pelas horas de trabalho prestadas. Ele realiza os serviços sem a necessidade de ter um local físico e sem exclusividade com as empresas. Nesse ponto, a autogestão se faz presente. De acordo com relatório desenvolvido pelo International Labour Office sobre o futuro do trabalho, profissionais ao redor do mundo também valorizam a autorrealização. Eles apreciam o impacto de seu trabalho nas experiências individuais e nas vidas das outras pessoas. Nessa nova cultura em formação, o contracheque passa a valer menos do que o sentido do trabalho em si.
Devido à rapidez com que robôs e computadores têm aprendido habilidades humanas, há a necessidade do profissional aprimorar outras aptidões. Em detrimento da força física ou do conhecimento técnico, competências cognitivas e para a resolução de problemas complexos estão se tornando cada vez mais fundamentais no mercado de trabalho.
Essa mudança de know-how exige treinamentos bem ajustados, o que impacta também no modelo de educação que temos adotado. As instituições de ensino precisam se adequar para inserir disciplinas e atividades dessa natureza a fim de facilitar a transição entre escola-trabalho. Além do mais, organizações devem promover o aprimoramento contínuo de seus funcionários, estimulando competências exclusivamente humanas em todo o espectro ocupacional.
Como as empresas podem se adaptar ao futuro do trabalho
O primeiro ponto a se considerar é o papel efetivo do líder como agregador de pessoas. O líder na era digital compreende que o desempenho colaborativo de equipes multidisciplinares se faz necessário para o alcance dos objetivos do negócio. É fundamental ter em mente que a tecnologia está transformando as experiências profissionais e é importante envolver todos os departamentos na definição de um novo modelo de atuação.
Estar perante um ambiente altamente automatizado exige que as empresas invistam em novas ferramentas, plataformas e serviços baseados em Inteligência Artificial, Internet das Coisas e computação em nuvem. Isso impacta diretamente nas funções dentro das organizações, envolvendo todos os funcionários no processo de transformação do modelo de trabalho. Segundo Lynda Gratton, professora da London Business School, as empresas precisam investir em aprendizado contínuo.
Ela cita o caso da AT&T, que estimula seus colaboradores a continuar aprendendo ao conceder uma quantia financeira anualmente para ser investida nos mais diversos conhecimentos. Lynda também relata que algumas empresas têm medo desse tipo de iniciativa pelo risco de, após todo o investimento financeiro, a pessoa encontrar outras oportunidades fora da organização. Esse receio, por outro lado, acaba por manter um funcionário menos qualificado na equipe, o que, segundo Lynda, não é uma boa opção.
Com as novas configurações do trabalho, o setor de Recursos Humanos também precisa se reposicionar. Nesse ponto, é observar o que se passa no mercado de trabalho e aprender o que está mudando. São profissionais que precisam desenvolver novas competências para saber aplicar o conhecimento dentro das empresas.
Os processos e práticas internos vão sofrer alterações e por isso a estratégia de negócio precisa estar alinhada à estratégia de mudança do RH. É o que Lynda chama de gestão da mudança. Cabe aos líderes fomentarem em seus colaboradores a pensar o futuro e estimular os profissionais de RH a aprenderem como capacitar as pessoas para acompanharem as mudanças que acontecem no mundo.
O tradicional método de trabalho, com oito horas por dia, cinco dias por semana, vem passando por alterações. É imprescindível conhecer mais sobre essas práticas flexíveis de trabalho. Organizações que possuem uma ágil mudança de mindset estarão melhor preparadas para responder e atuar com larga vantagem em um mundo volátil, imprevisível, complexo e ambíguo (saiba mais sobre o Mundo VUCA clicando aqui). Essa é uma observação feita por Fiona Cannon, autora do livro The Agility Mindset.
De acordo com a pesquisadora, a disposição, habilidade e cultura para ser estrategicamente ágil sobre o desenvolvimento, revisão e implementação de novas práticas ao longo do tempo são tão importantes quanto aplicar efetivamente as práticas atuais. Em entrevista ao programa Business Daily, da BBC, Fiona destaca que organizações maiores têm mais dificuldade para se adaptar às mudanças devido a terem uma cultura organizacional mais sólida. Processos burocráticos e a verticalização hierárquica são dois traços fortes que precisam ser reavaliados.
Em um mundo onde as práticas flexíveis de trabalho estão ganhando força, em que horas contadas dentro de um escritório não significam necessariamente produtividade, confiança é a palavra-chave na relação entre empresas e profissionais. É preciso confiar que o trabalho há de ser feito, mesmo que os funcionários assumam uma carga horária reduzida ou até mesmo não trabalhem dentro das empresas. Se inspirar em exemplos de grandes companhias, como o Google, pode ajudar a mudar o mindset dos (as) líderes de outras organizações.
Quais as profissões do futuro no mundo digital
Com tantos desafios pela frente, naturalmente surge a pergunta sobre quais são as profissões do futuro. Bem, essa não é uma pergunta fácil de responder, mas é possível vislumbrar que novas e mais funções poderão surgir a partir de cientistas ou engenheiros de dados, como especialistas em cloud computing, designer de realidade aumentada, analistas de Big Data e de interpretação de algoritmos.
Vale ressaltar que algumas profissões podem não necessariamente ser extintas, mas reajustadas devido ao convívio com as máquinas. Por exemplo, as fabricantes de carros atualmente estão quase que completamente tomadas pela automação. Porém, ainda há necessidade de ter trabalhadores para fazer a manutenção da linha de montagem e de todo o maquinário. Esses profissionais deixaram de atuar diretamente na fabricação dos veículos e passaram a assumir outras funções.
E, por fim, devemos trazer aqui o fenômeno da gig economy, conhecida como “economia dos bicos”, que se caracterizada pela oferta de serviços nas plataformas digitais. Nessas plataformas as pessoas se disponibilizam para trabalhar nas mais diferentes atividades, seja fazer transporte, entregar comida ou passear com o cachorro de alguém.
Essa é uma prática considerada antiga, mas que foi impulsionada nos últimos anos pelos negócios digitais. É o caso da Airbnb, onde a pessoa se cadastra no site, sem grandes burocracias ou um complexo processo seletivo, e ganha dinheiro por hospedar pessoas de todo o mundo em suas casas por curtos períodos de tempo. Fica a critério da própria pessoa se deixará disponível um cômodo ou até mesmo todo o imóvel para hospedagem.