Para que serve a escola? Provavelmente, seu pensamento, como o meu, deve estar voltado para algo do tipo “formar futuros cidadãos, bons profissionais, pessoas alinhadas com a sociedade”. Poucos são capazes de discordar que a escola é um espaço primordial de formação, mas que, deve se manter atualizada constantemente.
Vivemos no Mundo VUCA, em uma sociedade cada vez mais conectada, em vias de imergir na Revolução 4.0. Então por que quando pensamos na escola, o lugar onde os futuros humanos que liderarão este planeta aprendem como ele funciona, ainda temos a imagem de lousas, cadeiras e uma infinidade de professores que explicam teorias a serem lembradas em avaliações que não dialogam em nada com o mundo que estamos criando?
Lógico que há exceções. Novos modelos de aprendizagem surgem o tempo todo e há consenso que a escola precisa se reinventar mesmo caso queira sobreviver enquanto instituição de relevância – e não apenas um espaço de ocupação para nossos filhos. Mas discutir que tipo de escola queremos é importante não apenas para educadores, políticos e empresários do ramo. Repensar a educação é primordial para desenvolvermos a sociedade que almejamos: conectada sim, mas com pessoas capacitadas com conhecimentos técnicos e pensamento crítico, capazes de construir um amanhã melhor para todos nós.
Utopia? Talvez. Mas preconizar o ideal, é importante manter um progresso contínuo e evitar a ilusão de que vivemos no melhor sistema possível. Quando a sociedade se engaja e “conta” para os educadores o que é necessário para formar pessoas em consonância com a realidade atual, os resultados podem ser bastante interessantes. Hoje quero falar sobre uma dessas experiências: o STEAM, que nasceu para suprir uma lacuna profissional da indústria, virou tendência e diferencial para implantação de uma cultura de inovação no mercado, e acabou se tornando uma das políticas educacionais mais promissoras para formação desta nova geração.
Um acrônimo para as exatas
O STEAM surgiu nos Estados Unidos ainda na década de 1990 como um movimento para estimular a formação nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. O “A” do acrônimo (Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics) chegou depois, partindo da constatação de que um currículo focado apenas nas áreas exatas seria incompleto e não exatamente interdisciplinar, como se propunha. O método foi sendo aperfeiçoado e, atualmente, mais do que somente a reunião de conteúdos voltados para essa área, se tornou um novo jeito de ensinar e perceber a ciência, com a inclusão de metodologias ativas, que estimulam a participação dos estudantes e a integração entre as áreas.
A Educação STEAM foge do modelo de aprendizagem tradicional, em que o professor é detentor de todo o conhecimento e cabe ao aluno apenas absorver o conteúdo que lhe é ensinado. No STEAM, o professor apresenta um problema que vai ser trabalhado com os alunos e eles aprendem a partir da prática e da investigação. Tal qual o mundo complexo e volátil que vivemos, em que não há uma única resposta correta, esse modelo auxilia que os estudantes busquem eles próprios o caminho para solucionar os desafios, coletando todos os conhecimentos necessários para isso no caminho. Essa abordagem pedagógica pautada pelo STEAM aumenta o protagonismo do aluno, uma vez que o professor é mediador no processo e não o detentor de todas as respostas; incentiva a inovação e colaboração, além de fortalecer o processo de ensino-aprendizagem.
O espaço de aprendizagem idealizado por esse modelo é um lugar em que o erro e o desconhecido são bem-vindos, o trabalho é colaborativo, a relação humana e a horizontalidade são reforçadas – com todos trabalhando na resolução de problemas reais, a hierarquia se dá por reconhecimento e não por autoridade. Com a construção de um horizonte de conhecimento ampliado, o aluno ganha autoconfiança e segurança para ousar, conquistando cada vez mais autonomia.
Além disso, as atividades guiadas na metodologia STEAM permitem que os alunos conectem ideias que pareciam desconectadas, beneficiando o aprendizado interdisciplinar e trazendo os estudantes para o centro do processo cognitivo. Deste modo, eles exercem a colaboração e aprendem uns com os outros.
Outras vantagens proclamadas pela adoção de STEAM nas escolas são o de despertar a criatividade, inventividade, empatia e humanismo entre os estudantes, além de desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias à vida contemporânea, como o pensamento computacional e cultura maker, do “faça você mesmo”. Não parece uma boa promessa?
Educar para inovar
Já conversamos algumas vezes como é necessário que os empreendedores criem uma cultura de inovação e flexibilidade para se adaptar e sobreviver nos próximos tempos. Em uma época que disrupção é regra, faz bastante sentido incentivar um ecossistema sensível a essas questões desde a pré-escola.
Foi com essa visão que o STEAM foi criado – e é exatamente por esse motivo que estamos falando sobre isso. Criar uma cultura da inovação passa por educar os profissionais para saírem da zona de conforto e resolverem problemas que nem sequer existem. E é por isso que o STEAM pode ser um bom aliado nessa transição.
No ano passado, uma pesquisa conduzida pela Harvard Business School com mais de 5 mil executivos de todo mundo indicou que apenas 30% enxergam a inovação entre os três principais desafios das organizações para atingir seus objetivos estratégicos e somente 21% consideram que as tendências tecnológicas são o principal desafio estratégico. A primeira posição do ranking ficou justamente a de atrair e reter talentos (41%). E, se, em vez de apenas procurar os profissionais mais talentosos, a maior parte das empresas buscassem formar novos talentos?
Grandes empresas de engenharia e tecnologia, como a Exxon Mobil, a Intel e a Hewlett-Packard, já perceberam o valor de entrarem neste diálogo e estimular o movimento STEAM. “Como o governo americano se volta cada vez mais para as empresas, a fim de pedir ajuda para pagar as melhorias nos laboratórios de ciências das escolas, a necessidade de enfatizar a ligação entre um amplo ensino de ciências e a mão de obra técnica do futuro cresce”, explicou em artigo no The New York Times, a jornalista científica Natalie Angier.
Embora pareça uma questão simplesmente econômica, de formação de profissionais qualificados, o entusiasmo com o STEAM vai muito além disso. Técnica e conhecimento são essenciais, mas se quisermos avançar de vez rumo a uma sociedade hiperconectada e realmente inteligente, são pessoas que conseguem reunir boas habilidades interpessoais, de adaptação e resolução de problemas, percebendo a complexidade da realidade que as cerca, que devemos formar.